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As Pontes da Cidade   Leave a comment

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É bem sabido que a Cidade Antiga está dividida pelo Grande Rio (apesar de não ser verdade) e que há uma cidade —distinta da outra— em cada uma das margens (mesmo sendo falso): os ‘factos’ confundem quem é de fora, um alerta ao viajante recém-chegado para cedo se aperceber de que as primeiras impressões são, provavelmente, ilusões.

Dificilmente escapa ao mais distraído a presença, a função e o significado daquelas pontes. Os mais eruditos, os que dedicam anos e anos a estudar antiguidades e línguas mortas, já haviam assinalado que há nomes que não são coincidências.

(…) cidade donde teve/ Origem (como é fama) o nome eterno/ De Portugal (Os Lusíadas, canto VI)

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O Grande Rio do Norte   Leave a comment

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Até nos dias solarengos e tranquilos a vaga alterosa revela as afinidades entre este mar—que é todo um oceano— e o Grande Rio do Norte.

As águas do Atlântico e as do Douro enfrentam-se desesperadamente, umas vezes; noutras, o mar vence a corrente e sobe à bruta ou, pelo contrário, o rio joga sobre o mar toda a terra com que os temporais do Interior Profundo o alimentam… e com o lodo e a lama, troncos d’árvore e cepas de vide, destroços de casas e de barcas, carcaças de gado, corpos de gente.

Em tempo de inverno, havendo alguma agua do monte e vento Leste, não pôde entrar embarcação alguma. Os maiores perigos nas entradas e saídas acontecem ordinariamente, se ha grandes cheias no rio, ou braveza no mar, ou ventos furiosos, e maiormente conforme o estado da barra, porque se estiver alterada com a corrente das areias, seria absolutamente impraticável.(in  Os Portos Marítimos de Portugal e Ilhas Adjacentes, vol I de Adolfho Loureiro 1904)

Rio temperamental e de excessos. Como o Oceano.

foz do dourop

Sua corrente faz-se sentir centenas—quiçá milhares— de quilómetros mar afora, como atestam os corpos dos infelizes arrastados mar adentro pelas águas do Douro.

Os povos das duas margens do Douro, dão o nome de ponto—e também galeira — ao sitio do rio em que a navegação se torna perigosa, em razão de correr a agua com vertiginosa rapidez, por entre rochedos. (in Portugal Antigo e Moderno Vol.VII de Pinho Leal)

Aos olhos do viajante recém-chegado, a cidade levantada junto à foz está dividida pelo rio; só pela vontade e pelo engenho dos moradores as duas metades foram abraçadas pelas pontes de barcas de madeira e pelas pontes de ferro ou de betão, construídas ao longo dos séculos.

A Cidade tanto lhe parece bonita, como triste, escura e fria. Ou feia. Tal qual o rio.

O Porto fúnebre, na cor parda dos seus granitos, nas sombras verde-negras das suas encostas de pinheirais, no chapéu de nevoeiros que o cobre aparecia com um aspecto tumular; lá no fundo, torvo e sombrio, corria o Douro, (…) (in Portugal Contemporâneo Vol.V, de Oliveira Martins)

E nem é mentira: são, até, meias-verdades! Só quando o viajante estranhar a luz da Cidade perceberá haver aqui um enigma; para isso terá de enfrentar chuva e nevoeiro, os dias e as noites da morrinha ou do temporal.

vista da afuradap

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